sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Fim, manhãs de domingos felizes

Andei revendo umas fotos. Que fotos! Me deu uma saudade. Arrependimento. Sofri um pouco. Chorei. Pensei que minha vida pudesse voltar. Ao que era. Talvez eu só quisesse me iludir. Talvez. Para quem sabe eu não sofrer tanto. Quem sabe. Pelo contrário.

Outubro de 2001, 9 anos. Quando minha vida acabou. Minha família se dividiu. E não havia como ficar em cima do muro. Não mesmo. Importâncias se foram. Realidade veio. Bateu. Não abri. Escancarou minha porta! Não sabia que era o fim. Agora sei. Não há culpados. Senão eu. Não há vitimas. Senão eu. Todos olhavam. Ninguém (me) entendia. Chorei noites. Dias. Semanas. Meses. Até que acabou. Um ano depois. Outra tragédia. Outra vez. Mais sozinho. Mais triste. Mais pessoas sem (me) entender. Nunca foi fácil. E ainda não é.

9 anos depois. E tudo que quero é voltar 9 anos atrás! Talvez eu tivesse sido alguém diferente. Outra pessoa. Tivesse feito outras coisas. Outras experiências. Talvez! Talvez eu não me torna-se isso o que eu sou. Um monstro? Não! Um herói? Não! Um homem? Não! Uma pessoa normal. Uma pessoa feliz. Uma pessoa comum. Uma pessoa igual à todo mundo! (Só para deixar claro: não tem nada à ver com minha sexualidade).

É injusto dizer que fui infeliz. Não por mim. Por quem sempre esteve ao meu lado. Tentando me ajudar. Tentando cuidar de mim. Não vou dizer que conseguiram. Tentaram! Olho para o passado. Não esqueço daquela noite. Sem ventos. Sem ouvir passos de salto alto. Sem receber um beijo. Sem tomar uma bronca pela bagunça. E isso se repetiu por várias noites. Várias. Sentia falta até dos puxões de orelha. Não podia dizer à ninguém. Já bastava eu. O magoado. Não foi fácil aceitar tudo de imediato.

Cada vez tenho mais certeza de que "Tenho um coração no lugar de uma pedra". Já me disseram que não tenho coração. Que é duro. Frio. Rochoso. Apesar. Nunca me esqueço da sonoridade. Eu tenho motivos para ter esse coração. Tenho? Sem culpados e inocentes. Dessa vez. Não é nada fácil. Nada. Nem ouvir amigos. Falando. Sorrindo. Tendo histórias para contar do final de semana. Se sentir diferente. Extraterrestre. Lágrimas sem motivos. Falsos sorrisos. Falsa alegria. Tentando achar em qualquer um. Substitutos. Não existem!

Sinto falta da época que fui criança. Se um dia fui. Brincar de pega-pega? Não é disso que tenho saudade. Isso eu ainda posso fazer. Sinto falta das manhãs de domingo. Corria para cama. Deitava com eles. Brincava. Fazia cóssegas. Conversava. Beijava. Abraçava. Isso é que me faz falta. Eu não sabia o quanto isso iria fazer falta. O quanto me fazia bem. Humano. Feliz. Nunca mais vou fazer isso. A idéia me assusta. Fim. Por que fim? Voltar à última manhã de domingo feliz.



(04:18) " Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou [...]
Todos os dias
Antes de dormir
Lembro e esqueço
Como foi o dia [...]
Somos tão jovens
Tão Jovens! Tão Jovens!" - Tempo perdido.
Intérprete: Legião Urbana.

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